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.6.Dir-se-ia: Caio Calígula podia, depois disto, ordenar que o deixassemviver.Mas Cano não tinha este receio: sabia-se que, desde que ele dera semelhantesordens, Calígula manteria sua palavra.Acreditarias tu que os dez dias quedecorreram até seu suplício, Cano os passou sem nenhuma inquietude? Na verdade,não parece verossímil o que este grande homem disse, o que fez e a tranqüilidade36que manteve.7.Ele jogava o "jogo dos ladrões",3F quando o centurião, passando60com um grupo de condenados, convidou-o a se levantar e a segui-lo; então elecontou seus pontos e disse a seu adversário: "Atenção! Depois de minha morte,não digas que ganhaste!" Depois, fazendo um sinal ao centurião: "Tu serástestemunha", disse-lhe, "de que eu tenho a vantagem de um ponto".Crês tu queCano dava tanta importância ao seu jogo? Ele zombava do carrasco.8.Seus amigosestavam consternados em perder um tal homem."Por que esta tristeza?", disse-lhes."Vós vos perguntais se a alma é imortal; eu irei sabê-lo agora mesmo." E até oúltimo instante ele não cessou de procurar a verdade e de perguntar à sua própria37morte a solução do grande problema.9.Seu filósofo3F o acompanhava; já o70aproximavam do túmulo, onde cada dia eram oferecidos sacrifícios a César, nosso34Personagem desconhecida: só Sêneca lembrou-se dele nesta passagem.35Faláride: tirano de Agrigento (Sicília), famoso pela sua crueldade.36Uma espécie de jogo de damas: era chamado também "jogo dos pequenos soldados".37Era costume das grandes personagens da época ter sempre a companhia de uma espécie de diretor espiritual, chamado "filósofo".Ver, aeste respeito, a obra de Sêneca Consolação a Márcia (IV, 2).deus: "Em que pensas neste momento, Cano?", perguntou-lhe o filósofo; "em quedisposição de espírito te encontras?" "Tenho", respondeu Cano, "a intenção deobservar neste instante tão breve se vou sentir minha alma elevar-se." E eleprometeu, caso descobrisse alguma coisa, tornar a voltar, a fim de instruir seusamigos sobre a sorte das almas.10.Eis a tranqüilidade no meio da tempestade! Não é digno da imortalidadeeste homem que procura na sua própria morte uma prova da verdade; que nosúltimos momentos de vida interroga sua alma exalante, e que, não satisfeito deinstruir-se até a morte, quer que a morte mesma lhe ensine alguma coisa? Pessoaalguma jamais filosofou por tão longo tempo.Não abandonemos depressa demaiseste grande homem, do qual não se pode falar a não ser com veneração: sim, nóstransmitiremos teu nome até a posteridade mais afastada, ilustre vítima, cuja morteocupa um tão grande lugar entre os crimes de Calígula!XV 1.Mas não adianta nada ter eliminado as causas da tristeza pessoal,pois algumas vezes acontece que um desgosto pelo gênero humano se apossa denós, quando percebemos quão grande é a quantidade de crimes felizes; quandorefletimos até que ponto é rara a retidão e desconhecidas a inocência e asinceridade, desde que ela não convenha; quando notamos os lucros e asdissipações da paixão desregrada, igualmente odiados, e a ambição que vai além deseus próprios limites, a ponto de procurar seu esplendor através da baixeza.Entãomergulha o espírito em noite escura; e destas virtudes assim transformadas, que emninguém se espera ver, nem são de utilidade alguma para quem as tem, originam-sedensas trevas.2.Assim devemos aplicar-nos a não considerar odiosos, masridículos, os vícios dos homens e a imitar Demócrito antes que Heráclito: este nãopodia aparecer em público sem chorar, o outro sem rir, um não via a não ser amiséria em todas as ações dos homens, o outro só tolices.Aceitemos, pois, todas ascoisas superficialmente e suportemo-las com bom humor: pois está mais emconformidade com a natureza humana rir-se da existência do que lamentar-se dela.3.Acrescentemos que se presta melhor serviço ao gênero humano ao se rirdele do que ao lamentá-lo: o gracejador nos deixa alguma esperança de melhora, ooutro se aflige estupidamente com os males que desesperadamente procuraremediar.Enfim, para quem julga as coisas de um ponto de vista mais superior,uma alma mostra-se mais forte abandonando-se ao riso do que cedendo àslágrimas; visto que não se deixa perturbar a não ser por uma emoção muitosuperficial e que não vê nada de importante, nada de sério, nem mesmo dedeplorável em toda a comédia humana.4.Observemos os motivos de cada uma de nossas alegrias e de nossastristezas e compreenderemos à precisão deste pensamento de Bíon: "A vida doshomens se assemelha a uma série de experiências: ela não tem nem mais valor nem38mais importância do que aquela de um embrião".3F 5.Vale mais aceitar80tranqüilamente os costumes comuns e os vícios da humanidade, sem se deixar levarnem ao riso nem às lágrimas: pois atormentar-se com os males dos outros é tornar-se perpetuamente infeliz, e alegrar-se com eles é adotar um prazer desumano.6.Assim é mostrar uma sensibilidade inútil chorar porque o vizinho enterra seu filhoe tomar um ar de tristeza: igualmente, nas nossas desventuras pessoais, jamais nosdevemos entregar à dor a não ser o quanto exige a natureza e não o que reclama ocostume.Quantas pessoas não vertem lágrimas unicamente para que estas sejamvistas, e cujos olhos secam no mesmo instante em que ninguém mais as observa!Mas elas julgariam vergonhoso não chorar quando todo mundo o faz: o hábito dese sujeitar à opinião de outrem é um mal tão inveterado que o mais espontâneo detodos os sentimentos, a dor, tem também sua afetação.XVI 1.Vem em seguida uma consideração que muitas vezes, e não semmotivo, entristece nosso espírito e o mergulha na maior inquietude: quando vemospessoas de bem acabarem mal Sócrates constrangido a morrer prisioneiro;Rutílio a viver no exílio; Pompeu e Cícero a se entregarem aos seus clientes; eCatão, este Catão, enfim, viva imagem da virtude, reduzido a testemunhar38Bíon: ver nota 17.publicamente, atirando-se contra sua espada, que a República perecia ao mesmotempo que ele
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